Eu me mudei com minha mulher para um apartamento em que achávamos que
seríamos muito felizes e que não teríamos grandes transtornos, mas ocorreu tudo
ao contrário do que prevíamos.
Nos primeiros dias após a mudança, tudo parecia as mil maravilhas. Após passado
algum tempo, notei um dia quando fui tomar banho que o chuveiro (que não era o
elétrico) tinha soltado e estava no chão do Box. Fiquei imaginando como aquilo
tinha saído do cano. Talvez estivesse mal atarraxado.
Após alguns dias e novamente me deparei com o chuveiro no chão do box e voltei a
atarraxar e perguntei para minha mulher e a empregada se haviam por algum motivo
retirado o chuveiro do cano. A resposta foi negativa.
Estava saindo do quarto e entrando no corredor e vi quando minha mulher estava
vindo da sala e prestes a entrar no corredor, carregando umas caixas e
simplesmente a porta fechou, batendo em sua cara, me isolando dela. Chegou a
bater na pontinha do nariz dela. Engraçado que a porta não abria nem por um
raio, ela forçava de um lado e eu do outro. Depois de muito sacrifício
conseguimos abrir a porta novamente. Ela disse que era estranho aquilo. Eu
concordei.
Havia uma coisa curiosa nesse apartamento. Porque as luzes queimavam com uma
facilidade incrível. As vezes as lâmpadas de um determinado cômodo ficava
oscilando um pouco mais forte e um pouco mais fraca e depois queimava. Acabava
de trocar uma lâmpada por exemplo a do quarto e dois dias depois trocava uma das
lâmpadas do corredor. E dali a menos de uma semana era a do banheiro, cozinha,
área de serviço, banheiro de novo, quarto, corredor novamente. Contratei um
técnico. Trocou toda a fiação da casa. Mas os problemas continuavam. Era uma
lâmpada pelo menos por semana queimada. Não escapava nem a dos abajures e até
mesmo a lâmpada da geladeira e fogão. Fora quando as lâmpadas não ligavam
sozinha. De vez em quando acontecia isso também.
O liquidificador um dia ligou sozinho e o grill deu curto circuito, a
resistência da torradeira ficou mais intensa e queimava os pães, o ferro
elétrico estourou quando a empregada passava a roupa. Ela disse que um dia
estava lavando roupa e algo puxou o lenço que usava na cabeça, ela até pensou
que fosse impressão dela. Mas depois que isso aconteceu outras duas vezes ela
muito sem graça veio comentar comigo. Estava com os olhos arregalados.
Minhas esposa e eu havíamos chegado em casa já de madrugada e quando passávamos
pelo corredor para entrar no quarto eu recebi uma saboneteira de metal na
cabeça, vindo do banheiro. Doeu, mas assustou mais ainda. A gente ouvia um leve
barulho de gente falando mas sem saber o que falavam porque era baixinho. O
espelho da entradinha do apartamento caiu no chão e quebrou, mas quando fui ver
o arame que prendia, ele estava inteirinho e o prego que prendia também não
havia saído do lugar, nem sequer estava inclinado para baixo.
Um dia a empregada estava servindo o jantar para gente e mais uma prima de minha
irmã que veio do Sul e passava o final de semana com a gente. E quando estávamos
no meio do jantar a cortina da sala foi arrancada quase toda do trilho. Ficamos
os quatro parados ali olhando aquilo.
O chuveiro do box continuava a sair do lugar e amanhecia no chão. Outras vezes
acordava com barulho forte de água caindo como se um cano de caixa d'água
estivesse vazando e era o chuveiro, ou seja, o cano do chuveiro que jorrava a
água.
O lenço na cabeça da empregada continuava a ser arrancado as vezes, assim como
as vezes sentíamos algo pegar levemente e segurar o tornozelo da gente. Os
livros da prateleira do escritório caíram em seqüência quando eu e minha esposa
estávamos redigindo algumas coisas.
Um dia estávamos discutindo eu e minha esposa por uma besteira e quando
estávamos falando alto ouvimos nitidamente como se alguém falasse
chiiiiiiiiiii!!!!!!! como para que a gente calasse a boca. Claro que a discussão
acabou naquele momento. Minha esposa tratou logo de me abraçar e dizendo que
estava com medo.
As lâmpadas iam queimando e sendo trocadas. A empregada reclamava de barulhos no
quartinho dela como se alguém estivesse arranhando as paredes e a gente ouvia
barulho de vozes que não conseguíamos entender o que era, porque era baixinho
demais e depois parava.
As vezes o banheiro ficava com um perfume fortíssimo adocicado e depois parava.
Voltava dias depois e era tão forte que parecia que haviam quebrado um vidro
inteiro de perfume super enjoativo que empestava o apartamento todinho.
Uma vez, nós viajamos e demos férias a empregada, então, como tínhamos o
problema dos eletrodomésticos que viviam nos causando surpresas, resolvemos
desligar a chave geral do apartamento, por prevenção. E quando chegamos de
viagem e abrimos a porta, algumas luzes estavam acesas e a chave geral havia
sido religada sozinha.
Até mesmo a campainha da porta tocava e víamos pelo olho mágico que não havia
ninguém do outro lado. Também as vezes a maçaneta da porta da cozinha ou do
corredor que ligava a sala mexia sozinha como querendo abrir, mas as portas
estavam abertas. A porta do corredor as vezes batia com violência e normalmente
quando um de nós estávamos prestes a cruzar ela, quase batendo na nossa cara. E
algumas vezes era um custo fazê-la abrir novamente.
Mas o dia que mais assustou a gente, foi quando estávamos deitados, as luzes
desligadas e vimos um vulto que veio do corredor e ficou parado na porta e
depois foi até a cabeceira da cama. Parecia uma mulher com cabelos desgrenhados,
descabelada, ficou parada ali na frente da cama e minha esposa agarrada comigo e
eu com ela. Conseguimos ouvir a voz rouca falando NÃÃÃÃÃÃO!!!!!!!
NÃÃÃÃÃÃÃO!!!!!!! E o vulto foi saindo lentamente. A porta do corredor bateu com
toda a violência. O quarto ficou com um cheiro insuportável de perfume enjoativo
e adocicado.
A empregada veio no nosso quarto após empurrar com bastante força a porta do
corredor dizendo que as portas do armário de cozinha estavam batendo e que havia
uma faca cravada em um dos armários. Fomos lá e constatamos que era verdade. Ela
estava entre a folha da fórmica que estava meio solta e a madeira. E as portas
estavam desorganizadas, umas abertas, outras fechadas.
Nos mudamos, depois de esgotadas todas as tentativas de ignorar o que ocorria
naquele apartamento. Fomos morar em um apartamento em um prédio bem ao lado
deste. E notamos com freqüência que os moradores não costumam ficar muito tempo
naquele apartamento.
Houve até um caso curioso em que um casal foi morar lá e um dia quando
chegávamos no nosso prédio, havia uma grande movimentação nesse prédio do lado,
havia carros da polícia também. E soubemos que a moradora do apartamento em que
moramos, tentou matar o marido. Eles brigavam muito e ela esfaqueou ele no braço
e costela, mas não conseguiu matá-lo. Ele foi para o hospital e ela ficou
detida, não soube o final da história, mas o apartamento foi desocupado e logo
em seguida veio outra família que logicamente não ficou muito tempo. Assim como
os moradores a seguir e assim por diante. Nunca para gente lá.
Caselli - Rio de Janeiro - RJ